O sobrado

Moro num sobrado. Velho. Encravado entre sobrados.
À rua Cipriano Barata. Amarelo. Desbotado.
Esquina com a Travessa Brigadeiro Jordão.

Quando parto mundo afora, calo.
O meu sobrado fica. Com meus retratos.
Cartões postais. Caravelas sobre a mesa.
Doces de amora de Cora Coralina.
Fotografias da Ilha da Madeira. Pinturas de Degas.

Quando volto mundo adentro, grito.
O meu sobrado vai. Com minhas paixões partidas.
Cartas. Cadernos. Rabiscos. Versos.
Pães de queijo de Adélia Prado.
Recordações de São Paulo. Rascunhos de Portinari.

O meu sobrado assovia canções de Dylan.


Poema do livro Memorial dos meninos | Rudinei Borges | 2014